A poesia atemporal de Léo Cruz
Resenha do livro “A última vez que penso em você neste segundo”
“A última vez que penso em você neste segundo” é o segundo livro do autor Léo cruz, publicado pela Editora Bestiário. Sendo eu própria uma leitora assídua e fã de seu trabalho, afirmo que sua escrita evoluiu muito desde seu primeiro livro “Ainda não há furacão com o seu nome”, publicado em 2018 de forma independente. O que já era bom, ficou ainda melhor. Sua obra é atemporal, ao retratar diversos problemas cotidianos que, creio eu, todo mundo passa (ou passará), desde o amor (ou a falta dele), à saudade, à tristeza e à solidão. Arrisco dizer que é impossível que alguém não se identifique com, ao menos, algumas de suas poesias:
um gole daquele café frio esquecido na xícara é como ver uma foto nossa ao lado de quem amávamos mas hoje já não amamos mais antes o que aquecia agora dá um gosto ruim na garganta.
O Léo utiliza diversas figuras de linguagem (como a metáfora, retratada no poema acima) para transmitir o que sente, e para o leitor entender sem precisar fazer esforço ou ter uma bagagem literária muito pesada.
O humor, a ironia e o “brincar com as palavras” também são elementos extremamente presentes. Isso torna a leitura leve e agradável.
haiquase
quase, mas não foi,
o destino veio só
dar um oi.
Este último poema em específico me remeteu aos versos de Carlos Drummond de Andrade em “meio do caminho” e “quadrilha”; não tanto pela abordagem, mas sim pela forma como o significado foi construído. A inspiração e admiração de Léo pelo trabalho de Drummond fica ainda explícito no poema “pedra”:
pedra
se não estiver tão afim de alguém
quando alguém está de você
veja bem,
é melhor ser perda de carinho
do que ser uma pedra no caminho.
A linguagem é direta, e o vocabulário simples, favorecendo a identificação rápida e fácil do leitor com o texto. As poesias, em sua maioria curtas, geram um impacto instantâneo. As palavras, versos e estrofes são arquitetados e encaixados de maneira excepcional. Ora geram desconforto, ora geram alívio. Ora geram risadas, ora melancolia.
Por vezes, o livro desperta sentimentos e desengaveta pensamentos com os quais não queremos (mas precisamos) lidar.
turbulência
tem dias que não estou bem.
mas se até o avião mais caro do mundo
com um grande bagageiro
e cheio de combustível
também pode sofrer turbulência,
imagina eu,
que nem sei voar
para perder de vista
os problemas.
A única ressalva que tenho a respeito do livro é sua brevidade. Ele termina com um gostinho de “quero mais”, porém acredito que isso seja uma qualidade, não um defeito. Os melhores livros que li terminam exatamente assim.
Por fim, o título da obra não poderia e nem deveria ser outro. “A última vez que penso em você neste segundo” é pura poesia, irônica, engraçada e genial, assim como o próprio Léo.
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Recomendação da semana
Para quem ama ler, mas não tem tempo disponível (ou dificuldade visual de leitura), os audiolivros são uma ótima saída. Confesso que eu tinha um certo preconceito com “ouvir um livro”, mas desde que machuquei o olho esquerdo, eles têm sido uma ótima alternativa.
Fiz uma assinatura na Audible, o aplicativo de audiolivros da Amazon, e olha, a qualidade dos áudios lá me deixou pasma.
Você já tinha ouvido falar do Léo Cruz? Caso não, vou deixar aqui os links para o livro físico e para o eBook da obra citada. Vale a pena conhecer :)
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