eu não sei em que ponto nos perdemos ou em que ponto você se perdeu de mim; se foi culpa minha por andar tão desatenta, distraída, que mal percebi no que estávamos nos tornando, ou se foi culpa sua, por perceber tudo à sua volta e não fazer nada para impedir. lamento que tenhamos chegado aqui, nessa parte que nunca esteve no roteiro. a aceitação é lenta e dolorosa, mas veio no momento exato em que eu precisava de uma resposta para o vazio que me assola desde sexta-feira, quando fui embora. passei o fim de semana me perguntando se o vazio era saudade, e fiz de tudo para preenchê-lo. vi fotos suas e lembrei como seus olhos brilham vivos sob o sol, como seus traços formam seu rosto, como suas linhas desenham tão perfeitamente seu corpo. lembrei de uma época boa, de quando éramos felizes. senti inveja de mim mesma na fase em que eu era tudo pra você, de quando tudo era uma aventura. lembrei de quando viajávamos para júpiter todas as noites ao deitar, de quando nos olhávamos com os pés nas janelas em uma cidade que já era nossa. senti falta dos nossos beijos carregados de paixão, e não de despedidas. adeus é o gosto que senti em todos eles nos últimos dias.
até pensei em te chamar quando o vazio se tornou tão insuportável e tudo o que eu queria era fugir. mas uma voz sussurrou no meu ouvido, e ela disse que isso não precisava ser feito, que eu precisava apenas dar mais tempo ao tempo. e eu o fiz, pois era o melhor a ser feito. foi então que descobri que o vazio e a saudade de ti eram duas coisas distintas: a saudade doía menos que a dor de ficar ao seu lado, enquanto o vazio, era a falta de uma pessoa que deixei ser engolida pelo passado. veja bem, tentei tanto te conquistar que acabei anulando a mim. eu me tornei pequena, e isso é um descaso sem tamanho com a infinidade que cabe aqui dentro. você deve estar se perguntando como isso é possível, já que afirmou tantas vezes que não dou o meu melhor pela gente. surpresa. acredite ou não, te dei quase tudo o que eu tinha, e ainda assim foi insuficiente. sua insuficiência se tornou a minha, e agora me sinto intoxicada (não mais pelo seu cheiro) por sua presença. domingo eu tive uma das melhores noites da minha vida, uma das mais aleatórias e engraçadas possíveis, e minha primeira reação foi não querer te contar. conheci os dois meninos mais legais do mundo, vi na minha amiga uma pessoa que estava aprisionada por anos (sabia que ela ainda estava lá). e me senti tão leve, tão livre e tão solta de uma forma que não me sentia há tempos. eu me entorpeci de vinho puro pela primeira vez, com alguém que encheu meu cоро em vez de encher meu saco. eu me abri e desabafei para pessoas que eu conheci há apenas algumas horas e as ouvi dizendo o quanto eu era foda. foi tão genuíno, tão verdadeiro, que mal pude acreditar que alguém além de mim me enxergou. eu brilhei naquela noite, fui livre, fui eu e acho inacreditável que tenha me privado disso, me privado de mim, por tanto tempo. acho que você nunca compreenderá essa sede de mundo que carrego; afinal, todo esse meu desprendimento nunca te fez bem. não me leve a mal, por favor, não interprete errado, a minha imensidão não diminui a sua, a gente apenas bebe de fontes diferentes.
houve um tempo em que acreditei que amor bastava, acreditava que com ele, o resto se ajeitava. mas não é bem assim. o que tentei dizer com isso tudo é que estou miúda perto de ti, não me sinto feliz. e isso poderia ser cômico, pois sua terapeuta disse que ninguém abriria mão da própria felicidade para te fazer feliz. mas eu abri, e fiz de tudo para te manter de pé, e mesmo assim não deu certo. nós duas caímos.
espero do fundo do meu coração que você não se culpe por isso e não me culpe também. é apenas algo que deve ser feito, e espero muito, muito que você consiga entender: viemos de mundos completamente diferentes, sendo pessoas incompatíveis. não fui capaz de te apoiar quando você mais precisou, mas você também não é capaz de me dar o que preciso agora. eu gostaria de voltar no tempo e fazer tudo diferente, e imagino que você queira o mesmo. porém se prender a isso só tornaria as coisas mais difíceis. espero que você entenda as minhas razões; afinal, só eu sei dos meus limites. pois é, meu bem, não foi dessa vez.
nós realmente construímos um amor lindo. perdoe-me por não caber mais nele.
Recomendação da semana
A intenção dessas indicações nunca foi o auto-merchan, mas essa semana, vocês podem me perdoar por não escapar dele? É que este texto faz parte do meu livro de poesias “para o que não foi amor, o que foi e o que quase”, que completa 1 ano de lançamento amanhã!
O motivo do ‘quase inédito’ é porque esta versão revisada vai (possivelmente) entrar para a SEGUNDA EDIÇÃO (sem data prevista) do livro (uhu!). Portanto, ela está um tantinho diferente da edição atual, que você pode ler na versão física ou em eBook na Amazon.
Amanhã, lá no meu Instagram, sai o vídeo em recordação à grande noite do lançamento, uma espécie de #TBT fora da quinta.
A partir da próxima semana, retornamos ao não-auto-merchan, obrigada pela atenção e compreensão ;)